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Afinal de contas… a Apple está mesmo em crise?

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Antes de mais nada, eu quero deixar uma coisa bem clara nesse post: “eu queria estar em crise como a Apple está!”.

Dito isso, nessa semana, muito vem se falando sobre o momento atual da empresa de Cupertino. A empresa oscila entre vitórias e derrotas nos tribunais de todo o planeta, em sua luta na “guerra de patentes”, registrou recordes de vendas iniciais com o iPhone 5 (cinco milhões de unidades no primeiro final de semana), mas teve filas menores no lançamento do iPad Mini e do iPad de quarta geração (apesar de vender mais de três milhões de unidades combinadas dos dois tablets no seu primeiro final de semana), viu o Samsung Galaxy S III ultrapassar o iPhone 4S em vendas no último trimestre, perdendo assim o posto de smartphone mais vendido do mundo, e suas ações em Wall Street (bolsa NASDAQ) tiveram queda de 20% no seu valor nas últimas semanas.

Com tudo isso acontecendo, podemos dizer que a Apple está em crise? A pergunta divide opiniões, e vamos tentar abordar todos os aspectos da questão a seguir, tentando descobrir como isso vai impactar o mercado de tecnologia nos próximos meses (se é que vai).

Um número considerável de analistas argumentam que, como tudo nessa vida, a Apple atingiu o seu ápice em termos de sucesso e inovação, e que está iniciando a sua linha de descendente. Se isso estiver acontecendo, vale a pena deixar registrado que não é algo exclusivo da Apple. Tudo nessa vida é cíclico, feito de altos e baixos, e pode ser um processo de transição natural, que a própria empresa de Tim Cook precisa passar para se recuperar depois. Capacidade para isso, a empresa possui de sobra.

Além disso, não é uma queda vertiginosa, ou como se a empresa estivesse caindo do penhasco (empurrada pelas mãos do Google e da Samsung, em uma metáfora maldosa da minha parte). O analista da Ironfire Capital, Eric Jackson, em recente entrevista para a Forbes explica que a queda recente da Apple está muito mais ligada à preocupação dos investidores com o recente desempenho de vendas da empresa do que com o prestígio da marca junto ao consumidor, ou com a qualidade dos produtos apresentados.

A Apple segue sendo amada pelos seus usuários. A prova disso é vender cinco milhões de unidades do iPhone 5 em apenas três dias. E olha que estamos falando de um produto que recebeu duras críticas por causa da má qualidade de acabamento (em alguns aparelhos), a presença do Apple Maps (e a ausência do Google Maps) e o baixo número de inovações no smartphone. Mesmo com tudo isso, não dá pra negar que o iPhone 5 (assim como o iPad Mini e o iPad de quarta geração) são produtos de qualidade superior, se comparados aos seus concorrentes mais diretos.

Logo, o problema não é esse. O principal problema da Apple no momento responde pelo nome de “o monstro da expectativa”.

A Apple vende muito no lançamento, mas os analistas de mercado, especialistas e investidores esperam sempre muito mais, justamente por ser “A” Apple. A empresa de Tim Cook registrou uma receita de lucros recorde de US$ 8.2 bilhões no último trimestre, mas os investidores queriam ainda mais! Três milhões de novos tablets vendidos em um único final de semana não foram os suficientes para acalmar os ânimos naqueles que injetaram dinheiro na empresa.

Os ditos “entendidos” do mundo da tecnologia estão cegos pela ganância, e se esquecem de alguns muitos detalhes quem impedem a Apple de quebrar os números recordes de lucros dos últimos anos. E são motivos bem razoáveis e plausíveis. A saber:

1) hoje, a Apple tem concorrentes; em 2008, não: esse talvez seja o item mais imediato para explicar a dificuldade da Apple em bater recordes financeiros. Um ano após o lançamento do iPhone (2007), o produto estabeleceu o parâmetro para smartphones, sem falar que já tinha feito isso com os players de MP3, com o iPod. Reinava em um mercado que já tinha gigantes como Motorola e Nokia. Com o tempo, a Samsung, LG, Sony e a própria Motorola reaprenderam a fazer os seus dispositivos, e diminuíram a distância. Ou seja, a fatia do bolo para a Apple ficou menor nesse aspecto.

2) o mundo está em crise. Ainda: não se engane, amigo leitor: a Europa ainda enfrenta dificuldades, os Estados Unidos sofrem com o desemprego, e o Brasil está na corda-bamba. O cidadão comum ao redor do planeta estão fazendo de tudo para pagar as suas contas. Inclusive trocar o seu iPhone por um smartphone mais simples, com um plano de dados mais econômico.

3) queda de vendas no pré lançamento é algo normal: o iPhone 5 foi muito especulado, e por muitos meses. Todo mundo confirmou o seu lançamento para setembro de 2012 antes da própria Apple anunciar o seu evento de forma oficial. Como consequência, as pessoas não iriam gastar o seu dinheiro no iPhone 4S, para que o mesmo ficasse desvalorizado em pouco tempo. Logo, é normal uma queda de vendas nesse último trimestre. Vamos esperar os números do quatro trimestre de 2012, onde muito provavelmente veremos a recuperação nas vendas do smartphone mais popular do mundo.

Esses três fatores impedem que a Apple venha a vender 25 milhões de iPhones por trimestre pelos próximos 10 anos. E são fatores absolutamente normais, dentro do cenário atual do mercado. Muitos podem dizer que “a Apple não inova mais, e por isso, perde terreno”. Eu até concordo com esse argumento. Por outro lado, me custa a acreditar que Steve Jobs não deixou nenhum grande produto novo encaminhado para os próximos anos, e que Tim Cook não esteja pensando nisso à sério. A demissão de Scott Forstall, para mim, é um indício de que, pelo menos na mesmice, ele não quer ficar.

O mercado considera o iPhone o “carro chefe” da Apple, e há uma razão de ser para isso. É o produto mais impactante da história recente da Apple, e foi a mola propulsora para que a empresa se tornasse o que ela é hoje junto ao público. Por outro lado, a Apple não é só o iPhone. E, mesmo que fosse, eu volto a repetir: gostaria de estar em crise como a Apple está, contando com “apenas” 15% da cota de mercado mundial de smartphones. E, diferente dos seus concorrentes, utilizando um único modelo de telefone inteligente.

Por fim, é importante lembrar que as quedas recentes de ações da Apple já aconteceram antes. Por exemplo, no ano passado, elas caíram de US$ 425 para US$ 360, na ocasião do lançamento do iPhone 4S. No lançamento do iPhone 5, elas dispararam para US$ 700. Ou seja, temos aqui os altos e baixos que citei antes.

A Apple está em declínio? Sim, mas dentro do esperado de qualquer empresa. Está cometendo erros nesse primeiro ano da era Tim Cook? Sim, com certeza. Pode se recuperar? É claro que sim. Está em crise? Não como muitos pintam. E, se algum dia cair e ficar na condição que a Nokia está hoje, já cumpriu o seu papel na história, e não será o fim do mundo.

Exceto para os Apple Fanboys, é claro!


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